Separando a persona da personagem. Dividida em múltiplas atenções, ao que desprende e ao que prende, ao que pretende e ao que é urgente, deixo-me de lado em poucas evidências de foco. Me catalisam, parabolicamente. Uns em necessidade da minha atenção, outros em incomodo. Subo e desço, velut luna. Me liberto em existência. E palavra escrita.

14 de mai. de 2010

Arte


No tempo onde foi artista quem inventou a roda, como preveríamos que arte se tornaria um bem adquirido obsoleto e sem valor real agregado quando hoje, o artista inventa sonhos?
Enquanto a arte é uma contribuição do homem para o homem, o que este primeiro pede em troca?
Até podemos ser bastante generosos e acreditarmos que se esta contribuição alcança um nível mais elevado de consciência humana, seu valor, tal qual seu emprego, serão beneficentes. Mas esta mesma aplaudida conclusão não expressará valor, ou estima ao bem gerado. Sendo assim, dentro da nossa sociedade de consumo passivo, a arte é uma aquisição que se tornou supérflua necessidade.

Outro dia pensava no poder religioso em se agregar crentes fiéis. Um ato de resistência humana em luta pela fé na existência do que já concordam que existe.
E fico sem exemplo para me guiar sobre o que atrairia alguém ao poder da arte.

A inversão de valores que levou à discrepância dos sub-gêneros humanos, distancia a fé de que a arte é transformadora do indivíduo.

Poucos os que a experimentaram, dos poucos que a absorveram, dos poucos resitêntes da busca por um novo suspiro profundo, onde estão hoje?

E onde está essa arte transformadora no nosso mundo pós contemporâneo, estéril e bidimencional?

O que faz o artista, criador do objeto de arte, chegar à transformação do seu espectador passivo, convidando-o à compartilhar de um pensamento incitante? Como este espectador aceitaria a sugestão "ótica" do artista?


E no caminho inverso do criador que observa o espectador e o revela, nos perdemos na sub-generalização da maioria não atingida pela experiência com a arte.
Cúmplices são os que passivamente nos observam e os que passivamente obedecem aos comandos do objeto de arte proposto por seu criador.

Estamos, hoje, todos cúmplices passivos sem qualquer transformação. A arte e o observador.

Caravaggio - Narciso